Moreto
ex-libris da Margem Esquerda do Guadiana
A superior qualidade dos vinhos de Moreto na Margem Esquerda do Guadiana e particularmente no triângulo Amareleja, Granja e Póvoa de São Miguel, deve-se ao calor do verão que assegura uma maturação perfeita das uvas, ao subsolo da região, com o “solão”, que garante a disponibilidade de água para as videiras não sofrerem com o stress hídrico, e às características da casta Moreto, cujo ciclo longo garante uma adaptação perfeita da casta à região e a torna ideal para responder, no futuro, às preocupantes alterações climáticas. Não surpreenderá, pois, que o Moreto seja a grande casta tinta da região, que esteja em fase de expansão, e que (quase) todos os produtores a reconheçam como a melhor.
História
O Moreto é uma casta muito antiga, cujos progenitores são duas castas quase consideradas como fundadoras da viticultura ibérica: a Cayetana Blanca e o Bruñal. O Moreto é, portanto, descendente das castas mais antigas da Península Ibérica.
A casta ocorre essencialmente na margem esquerda do Guadiana, pois é aqui que se sente bem, com o calor intenso da região. É um excelente exemplo em que a tradição a adaptou ao local certo. Entre as castas tintas regionais o Moreto é a preferida da maioria dos viticultores, pois todos são unânimes em reconhecer que é a que melhor resiste ao calor e ao sequeiro.
Simultaneamente assume-se como a casta mais aromática portuguesa e a parceira privilegiada dos vinhos de talha.
Principais atributos ampelográficos
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Casta muito antiga, descendente direta de duas castas fundadoras da viticultura Ibérica [raia de Espanha]: Cayetana Blanca (Sarigo) e Bruñal (Alfrocheiro);
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Casta envolta em alguns problemas de homonímia e sinonímia;
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Alguma variabilidade genética, que permitirá melhora-la através de seleção clonal;
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Casta de ciclo muito longo (tardia), adequada às regiões de clima muito quente.
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Perfeita adaptação às condições ecológicas da sub-região Granja-Amareleja;
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Grande resistência ao stresse térmico e hídrico;
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Grande capacidade produtiva;
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Regularidade na produção;
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Pouca sensibilidade ao míldio e oídio;
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Grande sensibilidade à podridão;
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Pouca sensibilidade ao ataque de parasitas;
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Enorme potencial de adaptação às alterações climáticas, sendo previsível um protagonismo crescente no encepamento do Alentejo.
Principais atributos vitivinícolas
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Principais atributos enológicos
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Perfil aromático (terpénico) intenso;
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Pouca intensidade corante;
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Pouca acidez quando sobremadura;
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Origina vinhos de qualidade e prontos a beber muito cedo;
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Com capacidade para produção de vinhos varietais na sub-região da Granja-Amareleja;
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Recomendada para lote com outras castas
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Médio potencial de guarda;
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Boa evolução do vinho em garrafa.
Principais atributos sócioeconómicos
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Um ex libris da sub-região, tendo muito maior representatividade do que nas restantes sub-regiões;
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A casta tinta mais reconhecida para a produção de vinhos de talha de qualidade;
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Única casta tinta que disputa com as brancas as preferências da população local, que durante séculos preferiu os brancos aos tintos de talha;
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Imprime o caráter distintivo aos vinhos tintos da sub-região Granja-Amareleja, pois está perfeitamente adaptada e é quase residual nas restantes sub-regiões;
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Pode vir a constituir uma “marca forte” da sub-região e, portanto, um influente fator de competitividade comercial.
Progenitores do Moreto
A Ampelografia Molecular tem permitido conhecer as relações de parentesco de muitas castas ibéricas, particularmente das mais antigas, como o Moreto. A Figura em baixo ilustra os progenitores e a afinidade genética do Moreto com outras castas.
CAYETANA BLANCA
(Sarigo)
BRUÑAL
(Alfrocheiro)
Camarate
Casculho
Castelã
Castelão
Casteloa
Cornifesto
Jampal
Malvasia Preta
Moreto
Tinta Gorda
Caraterísticas fenológicas
Os dados fenológicos são muito esclarecedores quanto à adaptabilidade geográfica (climática) das várias castas homónimas, pois tanto o Moreto como o Camarate (Moreto de Soure) são castas que se adaptam melhor ao clima quente do sul e do Douro, onde o risco de geadas tardias e de maturação incompleta é muito menor do que nas regiões mais frescas do Dão e Beira Interior. Por outro lado, a Malvasia Preta (Moreto do Dão), mais frequente no Dão, Beira Interior e algumas zonas do Douro, está adaptada a climas mais frescos, sendo a última a abrolhar e a primeira a amadurecer.
Abrolhamento
Pintor
Floração
Maturação
Peso na Região
Se tivermos em linha de conta a área de vinha certificada de todas as sub-regiões, verifica-se que é na Granja-Amareleja que existe a maior percentagem de Moreto, onde representa cerca de 13,9% do encepamento total. Será legítimo, pois, afirmar que o Moreto é uma das castas tintas mais emblemáticas da sub-região da Granja-Amareleja, onde merece o reconhecimento de quase todos os viticultores. Além disso, a respetiva área de vinha tem crescido apreciavelmente nos últimos anos, fruto da atenção que a casta começa a merecer de novo. Os cerca de 10 hectares de Moreto plantados nos últimos anos ocorreram nas freguesias de Amareleja e Póvoa de São Miguel, onde há viticultores a produzirem vinhos monovarietais de Moreto com sucesso comercial.
Mais de uma década de Experiência de
Vinificação de Moreto
Com mais de uma década de experiência na vinificação da casta Moreto, com um peso significativo na receção das uvas produzidas na região, muitas provenientes de vinhas velhas, é importante perceber os conhecimentos adquiridos pela equipa de enologia da adega da Cooperativa Agrícola da Granja.
A partir da colheita de 2009 houve a preocupação de se iniciar a valorização da casta Moreto, vinificando parte das suas uvas em separado, não só para estudar o comportamento enológico da casta, mas também com o intuito de produzir vinhos varietais, tanto em talha como em cubas de aço inox e posterior estágio dos vinhos em barricas de carvalho.
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A adega recebe as uvas de mais de 50% da área de vinha de Moreto da região Granja-Amareleja. Os dados permitem ainda concluir que as vinhas têm uma densidade de plantação muito abaixo das vinhas atuais, pelo que uma percentagem elevada será de vinhas antigas, plantadas em quadrado de 2,80 x 2,80 ou 3,0 x 3,0 m, com muitas falhas de plantação e cultivadas de acordo com uma viticultura antiga. A estrutura vitícola mostra que a maior parte das parcelas são muito pequenas e, portanto, características do minifúndio próprio da envolvente de algumas povoações, nomeadamente Amareleja, Granja e Póvoa de São Miguel.
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A técnica de vinificação seguiu as regras geralmente utilizadas na adega para os restantes vinhos, com temperaturas de fermentação entre os 28 e 30ºC, um período de curtimenta de 5 a 7 dias e usando o mínimo possível de aditivos enológicos.
Perfil
Vinhos de Moreto da
Adega da Granja
As uvas de Moreto atingem, com frequência, valores de álcool provável bastante elevados, sendo normais mostos com 13 ou mais graus em potência, ao contrário do que se regista, em regra, nas outras sub-regiões do Alentejo. No que respeita à acidez total, assinala-se o seu valor bastante baixo, embora varie significativamente de ano para ano. Os valores mais frequentes oscilam entre 3 e 5 g/L, expressos em ácido tartárico.
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De um modo geral, todos os anos os vinhos que mais impressionavam os provadores eram os monovarietais de Moreto, não só pela riqueza e intensidade aromáticas, mas também pela suavidade e equilíbrio da prova de boca, não obstante a sua cor ser mais aberta do que a da maioria dos restantes vinhos. Talvez por isso a casta seja tão apreciada para fazer o vinho de talha, que começa a ser consumido logo a partir de 11 de Novembro.
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Foi graças a estas provas na adega que se decidiu começar a produzir Moreto estreme logo em 2009, após estágio do vinho em barricas de carvalho. Este estágio tornava o vinho mais comercial e mais complexo, mas retirava alguma identidade à casta Moreto, sobretudo no seu perfil aromático. Por isso, começou a fazer-se, em paralelo, vinho de talha de Moreto estreme, na empresa Amareleza, Vinhos, Lda., sem estágio em barricas de carvalho. Foi possível, desta forma, comparar o comportamento enológico da casta com dois processos de vinificação completamente distintos. Os resultados excederam as expetativas, pois foi possível demonstrar que a casta Moreto responde de forma excelente em ambos os casos, muito embora origine vinhos de estilos muito distintos. O acompanhamento da evolução dos vinhos em garrafa permitiu, também, confirmar o seu bom potencial de envelhecimento, tanto dos estagiados em barricas como dos produzidos em talha.
Importará ainda referir que os vinhos têm merecido as mais elogiosas críticas de especialistas nacionais e internacionais, que salientam, especialmente, o caráter identitário que a casta confere aos vinhos.
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Na Cooperativa Agrícola de Granja, onde convergem as uvas de boa parte das vinhas antigas de sequeiro da Margem Esquerda do Guadiana, continua a pugnar-se pela preservação das tradições, a incentivar-se o cultivo das castas antigas, nomeadamente o Moreto e a Pendura, a incitar-se a produção de vinho de talha e a atrair visitantes para lhes mostrar, com todo o orgulho, a cultura e as tradições dos seus associados e da Margem Esquerda do Guadiana. O mesmo se está a fazer, há alguns anos e com o maior sucesso, no outro extremo da Bacia Mediterrânica, na Geórgia e Arménia, onde a devoção ao vinho é a mesma do Alentejo.
GA Moreto
O lançamento comercial do primeiro vinho varietal de Moreto foi o “GA”, da colheita de 2009, que teve assinalável êxito no mercado e foi pioneiro para o reconhecimento da casta. Desde então outras marcas comerciais de diferentes produtores têm surgido no mercado afirmando cada vez mais a qualidade dos vinhos de Moreto. A produção de engarrafados, tanto da Cooperativa Agrícola da Granja como da Amareleza Vinhos, Lda. tem vindo a aumentar lentamente, fruto da boa aceitação do vinho a nível nacional e internacional. É, pois, previsível que o esforço de recuperação e afirmação da casta - que já é um ex libris da Margem Esquerda do Guadiana - venha a trazer cada vez mais dividendos à sub-região Granja-Amareleja.